sábado, 12 de março de 2011

Lições de vida à sobremesa...

Hoje numa daquelas conversas banais de familia em hora de refeição conversava com a minha mãe sobre rugas e creme de rugas e o sobre o  facto das minhas terem vindo para ficar...

Enquanto a minha mãe na sua forma de sempre se referia ao pouco descanso e à correria louca que é a minha vida como causa não só das minhas rugas como de todo o mal que vem ao mundo (ou pelo menos ao meu...), uma voz baixa mas firme, caracteristica dos seus 83 anos diz num tom de critica...
"ó miúda de um raio...
para que queres tu apagar as rugas?
Cada ruga que tens é uma marca de um momento da tua vida...
querias o que? não ter rugas? não ter marcas? não ter vivido?
que andavas então aqui a fazer? a ver os outros viverem...
as rugas guardam momentos que a memória decidiu apagar..."

...voltou a baixar a cabeça abanando a suavemente para um lado e o outro, mostrando a sua indignação pela minha conversa...

A detentora de tanta sabedoria é a minha avó... uma pessoa a quem a vida fez de tudo para resignar mas nunca conseguiu...

Depois disto ficou em silêncio durante breves minutos... até que se levantou e deu uns passos arrastados até ao sofá...


Vou contar-vos um pouco da sua história como forma de homenagem:

Ficou orfã muito cedo algures na sua infância e como ela diz teve de se fazer à vida e foi aprender a servir... trabalhou para muitas familias abastadas... comeu o que o diabo amassou... conta muitas vezes da partilha que fazia com os ratos dos restos do pão que mandava para o canto para comer às escondidas...
conheceu mais tarde o meu avô, casou e teve 7 filhos, dos quais viu morrer cinco...
trabalhou como doméstica e no campo até vir para Lisboa na esperança de uma vida melhor...
vida essa que nunca teve... tudo o que tinha conquistado perdeu nas cheias de 1969... e continuou a sua luta incessante com dois filhos nos braços e um marido que se ausentou para a Suiça em busca de um futuro...

Passei com ela alguns anos da minha vida e sempre a conheci dura e resingona... mas no fundo com muito amor para dar.. nunca deixou que a vida a quebrasse e lutou sempre, sempre contra aquilo que considerava injusto... Usando uma expressão dela nunca deixou nada por dizer...

e hoje... quando as forças são já muito poucas e depois de ter deixado o desânimo tomar conta de si... decide mostrar me o quão futeis são as minhas preocupações com as rugas...




Obrigada avó por mais uma de tantas lições de vida

1 comentário:

  1. Grande senhora. Ouve bem a tua avó e aproveita as experiências que ela quiser partilhar ctg. Serão lições que, se não as aprenderes com ela (ou outra pessoa mais experiente), aprenderás mais tarde à tua custa!
    É coisa que aprendi: aprender com quem já viveu mais! E é das poucas coisas que me arrependo até hoje: não ter aproveitado mais tempo com avós e não ter ouvido e aceite indicações e conselhos dos mais velhos.

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