Deixei te partir....

Deixei te partir sem ter tido tempo pra me despedir....
Não sei quando foi a ultima vez que te vi, ou a ultima vez que me fizeste sorrir... mas sei que durante muitos anos fizeste parte do meu dia a dia, conviveste comigo de tão perto e eu nem sequer valorizei esse facto, foi como se fosse tão normal estares ali (na verdade estiveste ali a vida toda), que eu nem dava por ti...
A tua presença enriquecia o meu mundo, o meu espaço, a minha vida...
Dias houve na minha infância em que gargalhámos juntos...
Também houve alguns em que chorámos, contámos as estrelas ou simplesmente ficámos por ali a ver passar o tempo. Como se o relógio não existisse e o tempo fosse apenas um paradoxo da vida....
Fui crescendo, achava eu... e à medida que crescia cada vez me distanciava mais de ti.... por momentos pensei até que não me fazias falta... e deixei te partir....
Foste indo lentamente, deixámos de conversar um com o outro, seguimos caminhos por vezes diferentes, até que houve um dia em que pensei que já era tão crescida que deixei de te olhar, de te ouvir, deixei de sentir a tua presença.... não sei exactamente qual foi o dia, nem o momento... não sei, porque na verdade não estava assim tão crescida...
E se a memória me traiu quanto à tua partida.... agora não se cansa de me lembrar o quanto eras importante e a cada dia que passa, em cada momento mais ou menos feliz... lá está ela a dizer... lembras te como era?!
E eu lembro me.... lembro me como se estivesse a viver o momento, lembro me como se o tempo não tivesse passado, lembro me de cada cheiro, de cada flor que apanhámos juntos de todos os planos que faziam tanto sentido, e dos sonhos.... lembro me tanto dos sonhos...
Tenho tantas saudades dos nossos tempos. Tenho tantas saudades das nossas ruas, dos ralhetes que tinha que ouvir por tua causa... mas que me faziam tão bem...
Lembro me porque afinal tenho memória... e embora não saiba exactamente quando... sei que um dia  te deixei partir e sem  promessa de regresso...